VERDADES SECRETAS: PÚBLICO ESPECULA SOBRE POSSÍVEL FINAL “MULHERZINHA” E ÁS COMPARA ANGEL COM JULIA ROBERTS


Entre as opções viáveis em desfecho digno de Hitchcock, ÁS tem ouvido telespectadores vibrando por uma Angel domesticada pela vidinha a dois. Desejo subliminar de povo atrasado que ama o cabresto? Talvez. Mas, e daí?


O final da novela mais bafônica dos últimos tempos chega nesta noite de sexta-feira (25/9) e, apesar de o autor manter segredo de estado sobre o destino dos personagens, andam dizendo por aí que Walcyr Carrasco dará a Angel (Camila Queiroz) o tal “felizes para sempre”. Direito de amar dos adúlteros? Funeral definitivo dos moralismos classe média? Ou apenas a expressão do desejo geral de um povo que ainda acredita em desfecho romântico e torce por válvulas de escape cinderelescas para segurar tramas econômicas de um governo muito mais sórdido que a cueca melada de Alex (Rodrigo Lombardi)? Bom, rola no boca a boca que quem achou que a mocinha estaria gargalhando, fazendo book dourado e vivendo vida de glória numa Paris fashion, entre o carrossel do Louvre e o estúdio de algum fotógrafo bacana, se enganou. Segundo boatos, o destino da mocinha de 16 anos será mesmo o bom e velho casamento. Como assim?!? Em tempos modernos, será que alguém mais acha que autor cai com a cabeça no chão? Felicidade de uma menina de 16 anos é casamento hoje em dia? A felicidade de alguma mulher na história da humanidade tem a ver com sua situação civil? Hum, como ÁS citou, são apenas especulações e há mais cílios postiços com rímel melado por trás destas do que supõe a vã filosofia do público.


Senão, vejamos: a menina saiu do interior, chegou à cidade grande e começou a modelar. Já tinha cabelo bom, então não precisou pranchar, nem esticar. Teve que se concentrar no salto alto, tão necessário na passarela quanto fora dela, para se equilibrar na vida e se desviar das pernadas. Se submeteu à prostituição para ajudar à família, num contexto que não tinha nem de perto o glamour de uma linda mulher como Julia Roberts. Rodou o taxímetro sob a batuta de uma cafetina velha transmutada em booker de uma agência que (segundo o enredo) era de quinta, mas tinha décor de arquiteto de primeira. Se apaixonou por um dos clientes que a humilhou. Como se não bastasse, o milionário com ares de tycoon obsessivo se casa com sua mamma (mamma mia!), iniciando perseguição psicopata à garota. Ela perde seu namorado por causa do passado de roda-bolsinha e se deixa levar por um triângulo amoroso com o marido de sua própria mãe, digno de fazer Sófocles furar os olhos e cortar os dedos da mão direita (caso fosse destro) para não escrever mais uma linha trágica sequer. E, para fechar, nesta noite de quinta o público dorme com um tiro sem dono martelado na cachola, sem saber quem do trio tomou azeitona.




Há alguns dias, fofocas e manchetes dos semanários de televisão dão conta de que se trata do suicídio de Carolina (Drica Moraes), mas desde a morte de Lineu (Hugo Carvana) em “Celebridades“; nunca um segredo novelesco foi tão guardado a sete chaves. Noooooossa, a pobre menina neo-rica precisa então de um psicólogo, não de um casamento, não é mesmo queridinha?



Mulheres, atenção! Um manifesto beeeeeem tardio: queimamos sutiãs em praça pública, conquistamos a pílula, lideramos revoluções, conseguimos equiparação de salários, ocupamos os mesmos cargos que os homens e até o direito de dar rolezinho com mais de um, se liberadas, sem que fôssemos classificadas de peixe chamado Wanda. Mas tudo isso parece não ser o suficiente quando o assunto esbarra em relacionamentos. Nas rodas e na mídia. É como se uma mulher solteira fosse sozinha, incompleta, deficiente, doente. Mas, deixem-me lembrá-los, Magic Mikes da vida real: Eva foi criada como mimo para que Adão a idolatrasse, e não o contrário.

Mesmo assim, todas essas conquistas femininas parecem não ter conseguido ainda mudar a mentalidade de macho man impregnada numa sociedade que ainda considera sedutor o garanhão com camisa de voal aberta, cordão no pescoço, ray-ban de Chuck Norris e aquele ar de matador. Nem gay curte mais esse tipo. Aliás, pode até curtir, mas como desvio-fetiche numa noite nebulosa, somente para dar vazão à tara isolada porque, para apresentar às amigas, ele vai preferir o Zac Efron.



Mas, na vida, na mídia e até no mundinho fashion, o que predomina na cabeça da mulherada ainda é o velho arquétipo, mudam apenas nuances. Por isso, será que o patriarcado ainda dita a felicidade da mulher como mãe de família, vênus esteatopígia (quem não sabe do que se trata, que consulte na internet) procriadora potrancona e bonequinha inflável propagadora de prazeres masculinos? Embora amplamente combatido numa sociedade que prima pelos exageros do “politicamente correto”, esse padrão parece ainda não ter sido expurgado da sociedade e a ficção, enquanto reflexo daquilo que a cerca, ainda faz uso de ninfetas, lolitas, baby girls e outros bibelôs dignos de Nabokov. Okay, vivemos ainda num contexto pós-2ª Guerra que incensa a pele de pêssego…


Prova disso é o possível e suposto fim da ninfeta mais amada do Brasil nestes últimos meses: o casório. Deixando as regras morais de lado, talvez o público feminino torcesse por uma Angel autônoma, dona de si, de seu corpitcho de sílfide, do seu coração e com uma carreira brilhante, fruto de seu árduo trabalho. Uma modelo tão requisitada quanto àquelas que deram inspiração ao seu nome artístico, as angels da Victoria’s Secret. Mas será que seu desejo pulsa por uma vidinha pacata, em cidade pequena, com coisas simples e longe da ribalta, como volta e meia acontece no showbiz de verdade, caso de uma Alice Faye na Hollywood dos quarenta e de uma Lídia Brondi na Globo da virada dos noventa (mais uma vez, quem não souber quem são, que consulte os alfarrábios do espetáculo)?




Seja qual for o seu destino, o público feminino torce por uma adolescente que inspire tantas outras, que apesar dos erros (graves) e arrependimentos, ensine que viver é bancar as escolhas e aceitá-las com responsabilidade. Não é isso que fazemos todas? Bom, ou não. Quem sabe um final justamente ao contrário traga essa discussão à tona, levantando lebres quanto a condicionar a felicidade feminina e a afirmação da mulher a um relacionamento. O mulherio torce para que nesta sexta-feira Angel encontre o amor, a felicidade e a liberdade na sua própria vida própria. E que, no fim do túnel, haja algo melhor que um casamentinho: que ela encontre a si mesma.

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